quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Nutrição





Vitamina D: quando vale a pena suplementar?

Nem todo mundo consegue obter níveis adequados da substância. Investigamos em que situações as gotinhas do suplemento podem (ou devem) ser convocadas

por DIOGO SPONCHIATO fotos DERCÍLIO design LAURA SALABERRY


Para um número cada vez maior de cientistas, a protagonista desta reportagem merecia ser eleita a molécula do século no que sito longevidade. Depois de provar seu papel protetor aos ossos, ela acumula de tempos em tempos um novo potencial preventivo ou até terapêutico. De doenças cardíacas a câncer, a impressão é que boa parte dos males crônicos tem menos probabilidade de aparecer quando os níveis da substância — que dentro do corpo trabalha como hormônio — estão em alta. A história seria perfeita se todas as pessoas tomassem banhos diários de sol, se abastecessem de salmão e sardinha e, acima de tudo, não houvesse fatores capazes de atrapalhar a produção da vitamina pela pele. 

A realidade, porém, é diferente: estima- se que entre 30 e 50% da população mundial apresente taxas inadequadas de vitamina D — fenômeno que não poupa um país tropical como o Brasil. Essa defasagem tende a ser maior nas grandes cidades, porque, dentro de casa, do escritório ou do carro, as pessoas acabam fugindo do sol. 

Atingir a cota de 400 a 600 unidades internacionais, preconizada a adultos saudáveis, não é tarefa hercúlea. "Bastaria caminhar no parque permanecendo com braços e pernas expostos ao sol, sem filtro solar, durante 15 minutos pela manhã", diz a nutricionista Lígia Martini, da Universidade de São Paulo. 

Mas, como você deve imaginar (ou sentir na pele), a rotina atribulada e as variações climáticas dificultam as coisas. "Além disso, depois dos 50 anos a necessidade de vitamina D aumenta para cerca de mil unidades diárias", observa a reumatologista Vera Szejnfeld, da Universidade Federal de São Paulo "E, com o avançar da idade, nossa pele perde a capacidade de sintetizar a substância a contento." Daí, não adianta torrar sob o sol. A solução definitiva também não seria se refestelar de salmões, por exemplo. Convenhamos: não há apetite que aguente. 

O fato é que, se os níveis da molécula no sangue ameaçam minguar, é recomendável estudar a possibilidade de recorrer à suplementação, ou seja, às gotas da versão sintética da vitamina. "Além de contribuir com a osteoporose, o déficit desse hormônio provoca dores nos ossos e fraqueza", avisa Vera. Bem indicados, os suplementos exibem altos índices de segurança. "As doses recomendadas não oferecem o risco de intoxicação nem efeitos colaterais", garante a professora. 

Existem grupos para os quais a suplementação é extremamente bem-vinda. Isso significa que entre essa gente faz todo o sentido dosar a molécula no sangue e, se necessário, adotar em seguida o conta-gotas. Encabeçam a lista as mulheres na menopausa, alvos fáceis da osteoporose. Sozinho, o cálcio não faz milagre pelos ossos: é a vitamina D que assegura sua absorção no intestino. Quem tem mais de 65 anos também deve investigar suas taxas. Além de o organismo perder a competência para produzi-la, essa turma está mais ameaçada de fraturas. "E a vitamina D ajuda inclusive a evitar a perda da massa muscular", afirma a nutricionista Camila Freitas, de São Paulo.


Todas as pessoas privadas de saídas frequentes ao ar livre precisam ficar de olho na concentração de vitamina D que corre em suas veias. "Devemos avaliar a necessidade de suplementação em indivíduos doentes, acamados e naqueles que apresentam sérias restrições para tomar sol", afirma a endocrinologista Victoria Borba, presidente do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Faz parte desse grupo, por exemplo, quem já teve um câncer na pele e, assim, é orientado a se esquivar do astro rei. 

Por falar no tecido que reveste o corpo inteiro, sua tonalidade interfere na fabricação da vitamina. A pele dos negros, por exemplo, pena para sintetizá-la, e, por isso, eles costumam padecer mais facilmente com níveis insuficientes. "A melanina, o pigmento da epiderme, funciona como uma barreira natural contra os raios solares", justifica Vera Szejnfeld. Nesse aspecto, essa proteção não é 100% benéfica. 

A obesidade é outro capítulo à parte quando rastreamos os estoques da prestigiada molécula. A vitamina D é normalmente armazenada no fígado e nas células de gordura — quando é requisitada, migra desse depósito para a circulação. "Só que nos obesos ela acaba presa no tecido adiposo", diz Vera. Resultado: falta vitamina no sangue e, assim, não é de jogar fora a ideia de recorrer à suplementação. Mesmo quem se submete a uma cirurgia bariátrica não escapa desse déficit. "Como alguns desses procedimentos promovem um desvio no intestino, há um comprometimento na absorção da substância", avisa Victoria. E, aí, chamem as gotinhas. 

Terapia D
A vitamina também se destaca como uma patrocinadora do sistema imune. "As células de defesa usam esse hormônio, que ajuda a regular sua atividade", explica o neurologista Cícero Galli Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo. Mais do que debandar infecções, nossa protagonista vem sendo explorada no contraataque às doenças autoimunes, como a artrite reumatoide — uma das hipóteses para a erupção desses distúrbios, aliás, é justamente a carência da molécula. "Na esclerose múltipla, que ataca o sistema nervoso, corrigir essa deficiência permite que muitos pacientes fiquem livres das manifestações do problema", afirma Coimbra. As doses, nessas condições, costumam ser mais elevadas, é claro. 

A substância ainda é empregada contra a psoríase, doença crônica marcada por lesões na pele. Mas, em vez do suplemento, o médico receita uma pomada à base da vitamina. "Na psoríase, as células da pele estão desreguladas e se multiplicam num ritmo acelerado, gerando as crostas", explica a dermatologista Letícia Secco, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. "O creme permite que essas células voltem a replicar em velocidade normal e os sintomas tendem a zerar." Seja dentro de uma loção, seja em forma de gotas; seja com as bênçãos do sol, seja na degustação de um salmão: cada vez mais se reconhecem os méritos da vitamina D — e quem ganha com essa fama somos nós.


O banho de sol 
O corpo fabrica vitamina D graças ao contato com os raios solares. O ideal é se expor diariamente em média 15 minutos entre as 10 e as 15 horas. Passe o filtro solar no rosto e deixe pernas e braços livres, já que o creme limita a absorção da luz. "No entanto, pessoas mais claras, que necessitam de proteção solar absoluta, obtêm a vitamina mais facilmente, se expondo menos de 15 minutos três vezes por semana", diz o dermatologista Marcus Maia, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 

Parceira do cálcio 
Calcula-se que apenas 15% desse mineral vindo da alimentação é absorvido pelo intestino na ausência da vitamina D. É por isso que ela tem papel de destaque na prevenção e no controle da osteoporose, o mal dos ossos fracos. Não bastasse isso, estudos sugerem o seguinte: quem suplementa cálcio sem se abastecer de vitamina D corre mais risco de sofrer uma calcificação nas artérias, fenômeno que precede ataques cardíacos. 

A pitada da alimentação 
O sol é a principal fonte de vitamina D, mas o cardápio pode reforçar essa cota. Para facilitar a vida, chegam agora ao mercado iogurtes e leites enriquecidos com a substância




Falta vitamina d pelo mundo 
Confira a taxa de insuficiência de vitamina D em mulheres que já passaram pela menopausa e sofrem de osteoporose — um dos grupos mais prejudicados pelo seu déficit 



* Veja que curioso: a alta incidência de décift nessa região se deve, inclusive, ao uso de vestes que não deixam o corpo exposto 

FONTE: Vera Lúcia Szejnfeld, professora de reumatologia da Universidade Federal de São Paulo

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