Vitamina D: quando vale a pena suplementar?
Nem todo mundo consegue obter níveis adequados da
substância. Investigamos em que situações as gotinhas do suplemento podem (ou
devem) ser convocadas
por DIOGO SPONCHIATO fotos DERCÍLIO design LAURA
SALABERRY
Para um número cada vez maior de cientistas, a
protagonista desta reportagem merecia ser eleita a molécula do século no que
sito longevidade. Depois de provar seu papel protetor aos ossos, ela acumula de
tempos em tempos um novo potencial preventivo ou até terapêutico. De doenças
cardíacas a câncer, a impressão é que boa parte dos males crônicos tem menos
probabilidade de aparecer quando os níveis da substância — que dentro do corpo
trabalha como hormônio — estão em alta. A história seria perfeita se todas as
pessoas tomassem banhos diários de sol, se abastecessem de salmão e sardinha e,
acima de tudo, não houvesse fatores capazes de atrapalhar a produção da
vitamina pela pele.
A realidade, porém, é diferente: estima- se que entre 30 e 50% da população
mundial apresente taxas inadequadas de vitamina D — fenômeno que não poupa um
país tropical como o Brasil. Essa defasagem tende a ser maior nas grandes
cidades, porque, dentro de casa, do escritório ou do carro, as pessoas acabam
fugindo do sol.
Atingir a cota de 400 a 600 unidades internacionais, preconizada a adultos
saudáveis, não é tarefa hercúlea. "Bastaria caminhar no parque
permanecendo com braços e pernas expostos ao sol, sem filtro solar, durante 15
minutos pela manhã", diz a nutricionista Lígia Martini, da Universidade de
São Paulo.
Mas, como você deve imaginar (ou sentir na pele), a rotina atribulada e as
variações climáticas dificultam as coisas. "Além disso, depois dos 50 anos
a necessidade de vitamina D aumenta para cerca de mil unidades diárias",
observa a reumatologista Vera Szejnfeld, da Universidade Federal de São Paulo
"E, com o avançar da idade, nossa pele perde a capacidade de sintetizar a
substância a contento." Daí, não adianta torrar sob o sol. A solução
definitiva também não seria se refestelar de salmões, por exemplo. Convenhamos:
não há apetite que aguente.
O fato é que, se os níveis da molécula no sangue ameaçam minguar, é
recomendável estudar a possibilidade de recorrer à suplementação, ou seja, às
gotas da versão sintética da vitamina. "Além de contribuir com a
osteoporose, o déficit desse hormônio provoca dores nos ossos e fraqueza",
avisa Vera. Bem indicados, os suplementos exibem altos índices de segurança.
"As doses recomendadas não oferecem o risco de intoxicação nem efeitos
colaterais", garante a professora.
Existem grupos para os quais a suplementação é extremamente bem-vinda. Isso
significa que entre essa gente faz todo o sentido dosar a molécula no sangue e,
se necessário, adotar em seguida o conta-gotas. Encabeçam a lista as mulheres
na menopausa, alvos fáceis da osteoporose. Sozinho, o cálcio não faz milagre
pelos ossos: é a vitamina D que assegura sua absorção no intestino. Quem tem
mais de 65 anos também deve investigar suas taxas. Além de o organismo perder a
competência para produzi-la, essa turma está mais ameaçada de fraturas. "E
a vitamina D ajuda inclusive a evitar a perda da massa muscular", afirma a
nutricionista Camila Freitas, de São Paulo.
Todas as pessoas privadas de saídas frequentes ao ar livre precisam ficar de
olho na concentração de vitamina D que corre em suas veias. "Devemos
avaliar a necessidade de suplementação em indivíduos doentes, acamados e
naqueles que apresentam sérias restrições para tomar sol", afirma a
endocrinologista Victoria Borba, presidente do Departamento de Metabolismo
Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Faz
parte desse grupo, por exemplo, quem já teve um câncer na pele e, assim, é
orientado a se esquivar do astro rei.
Por falar no tecido que reveste o corpo inteiro, sua tonalidade interfere na
fabricação da vitamina. A pele dos negros, por exemplo, pena para sintetizá-la,
e, por isso, eles costumam padecer mais facilmente com níveis insuficientes.
"A melanina, o pigmento da epiderme, funciona como uma barreira natural
contra os raios solares", justifica Vera Szejnfeld. Nesse aspecto, essa
proteção não é 100% benéfica.
A obesidade é outro capítulo à parte quando rastreamos os estoques da
prestigiada molécula. A vitamina D é normalmente armazenada no fígado e nas
células de gordura — quando é requisitada, migra desse depósito para a
circulação. "Só que nos obesos ela acaba presa no tecido adiposo",
diz Vera. Resultado: falta vitamina no sangue e, assim, não é de jogar fora a
ideia de recorrer à suplementação. Mesmo quem se submete a uma cirurgia
bariátrica não escapa desse déficit. "Como alguns desses procedimentos
promovem um desvio no intestino, há um comprometimento na absorção da substância",
avisa Victoria. E, aí, chamem as gotinhas.
Terapia
D
A vitamina também se destaca como uma patrocinadora do sistema
imune. "As células de defesa usam esse hormônio, que ajuda a regular sua
atividade", explica o neurologista Cícero Galli Coimbra, da Universidade
Federal de São Paulo. Mais do que debandar infecções, nossa protagonista vem
sendo explorada no contraataque às doenças autoimunes, como a artrite
reumatoide — uma das hipóteses para a erupção desses distúrbios, aliás, é
justamente a carência da molécula. "Na esclerose múltipla, que ataca o
sistema nervoso, corrigir essa deficiência permite que muitos pacientes fiquem
livres das manifestações do problema", afirma Coimbra. As doses, nessas
condições, costumam ser mais elevadas, é claro.
A substância ainda é empregada contra a psoríase, doença crônica marcada por
lesões na pele. Mas, em vez do suplemento, o médico receita uma pomada à base
da vitamina. "Na psoríase, as células da pele estão desreguladas e se
multiplicam num ritmo acelerado, gerando as crostas", explica a
dermatologista Letícia Secco, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. "O
creme permite que essas células voltem a replicar em velocidade normal e os
sintomas tendem a zerar." Seja dentro de uma loção, seja em forma de
gotas; seja com as bênçãos do sol, seja na degustação de um salmão: cada vez
mais se reconhecem os méritos da vitamina D — e quem ganha com essa fama somos
nós.
O
banho de sol
O corpo fabrica vitamina D graças ao contato com os raios solares. O
ideal é se expor diariamente em média 15 minutos entre as 10 e as 15 horas. Passe
o filtro solar no rosto e deixe pernas e braços livres, já que o creme limita a
absorção da luz. "No entanto, pessoas mais claras, que necessitam de
proteção solar absoluta, obtêm a vitamina mais facilmente, se expondo menos de
15 minutos três vezes por semana", diz o dermatologista Marcus Maia, da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Parceira
do cálcio
Calcula-se que apenas 15% desse mineral vindo da alimentação é
absorvido pelo intestino na ausência da vitamina D. É por isso que ela tem
papel de destaque na prevenção e no controle da osteoporose, o mal dos ossos
fracos. Não bastasse isso, estudos sugerem o seguinte: quem suplementa cálcio
sem se abastecer de vitamina D corre mais risco de sofrer uma calcificação nas
artérias, fenômeno que precede ataques cardíacos.
A
pitada da alimentação
O sol é a principal fonte de vitamina D, mas o cardápio pode
reforçar essa cota. Para facilitar a vida, chegam agora ao mercado iogurtes e
leites enriquecidos com a substância
Falta vitamina
d pelo mundo
Confira a taxa de insuficiência de vitamina D em mulheres que já passaram pela menopausa e sofrem de osteoporose — um dos grupos mais prejudicados pelo seu déficit
Confira a taxa de insuficiência de vitamina D em mulheres que já passaram pela menopausa e sofrem de osteoporose — um dos grupos mais prejudicados pelo seu déficit
* Veja
que curioso: a alta incidência de décift nessa região se deve, inclusive, ao
uso de vestes que não deixam o corpo exposto
FONTE: Vera Lúcia Szejnfeld, professora de reumatologia da Universidade Federal de São Paulo
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