Ômega-3 blinda o peito contra a poluição
Evidências
apontam que o nutriente impede o descompasso da frequência cardíaca e o aumento
de colesterol, possíveis consequências do ar sujo das grandes cidades
por
Thaís Manarini | design Laura Salaberry | ilustrações Nik Neves
Desde
que se constatou que os esquimós e os povos orientais eram menos acometidos por
doenças cardiovasculares, a gordura poliinsaturada ômega-3 - encontrada nos
peixes marinhos consumidos regularmente por essas populações - virou alvo de
uma infinidade de estudos. Chama a atenção, porém, uma das últimas pesquisas
que avaliaram sua influência no coração. Tudo por causa de um elo curioso. Veja
só: segundo cientistas da Agência de Proteção Ambiental da Carolina do Norte,
nos Estados Unidos, o óleo de peixe, fonte do nutriente, resguarda o órgão dos
efeitos nefastos da poluição.
Complicou? Vamos por partes. Quando inalados, os gases tóxicos, especialmente os liberados pelos carros, tendem a acelerar a frequência cardíaca. Com o coração funcionando em ritmo alucinado, sobe o risco de sofrer arritmia, quadro capaz de patrocinar uma síncope no músculo mais importante do corpo. Acontece que, na investigação americana, a situação ficou sob controle nos 16 voluntários que ingeriram cápsulas com 3 gramas de óleo de peixe diariamente, um mês antes da exposição aos poluentes. "Ao que tudo indica, o ômega-3 ativa o sistema nervoso parassimpático, responsável por diminuir as batidas do coração", descreve a nutricionista Maria Fernanda Cury Boaventura, professora da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. Então, garante-se o equilíbrio em relação ao sistema nervoso simpático, cuja função é oposta, ou seja, acelerar os batimentos. Cabe frisar que a mesma vantagem não foi observada nos 13 participantes que receberam óleo de oliva.
Esse não foi o único dado contrastante entre as duas turmas. Enquanto os consumidores do óleo de peixe não apresentaram alterações nos níveis de lipídios sanguíneos, aqueles que ingeriram a cápsula recheada de azeite ficaram às voltas com um aumento de colesterol e triglicérides - o artigo americano sugere que essa elevação também seria resultado da fumaceira. "O excesso de lipídios no sangue decorre da ingestão inadequada de alimentos gordurosos ou de doenças. A poluição não é fator determinante nisso", contrapõe Abrão Cury, cardiologista do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.
O que se sabe é que, em excesso, o colesterol se deposita na parede das artérias. Essa situação, que já não é nada boa, fica pior quando os gases tóxicos são inalados. Isso porque eles estimulam a formação de radicais livres, substâncias perigosas que propiciam a oxidação dessa molécula. "Esse processo está associado à formação de placas", explica Ubiratan de Paula Santos, pneumologista do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Na prática, abre-se caminho para a temida aterosclerose.
"Além disso, os poluentes estimulam a produção de mediadores inflamatórios que contraem os vasos", acrescenta o especialista. Esse cenário culmina na elevação da pressão arterial, um baita perigo principalmente para quem tem histórico de doença cardiovascular na família. A sorte é que, aí, o ômega-3 exerceria um papel protetor. "Os componentes ativos dessa gordura se incorporam nas membranas celulares e geram substâncias anti-inflamatórias", justifica a nutricionista Fernanda Serpa, diretora da Nutconsult, no Rio de Janeiro.
Independentemente dos resultados obtidos na investigação americana, a nutricionista Regina Pereira, diretora do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, acredita que é cedo para fazer uma ligação direta entre o consumo de ômega-3 e a redução dos danos causados pela poluição. "Precisamos aguardar a publicação de outros trabalhos que envolvam um número maior de pacientes", defende.
Contudo, não se contesta a importância dessa gordura para a manutenção da saúde cardiovascular em geral. Tanto é que ela deve aparecer sempre na dieta. "A recomendação oficial é comer peixe duas vezes na semana", informa Lis Proença, nutricionista do InCor. No restante dos dias, basta usar 2 colheres de sopa de óleo de canola ou linhaça - boas fontes do nutriente - para finalizar os pratos.
Seguindo a toada de deixar o coração firme e forte para, assim, enfrentar os compostos maléficos que pairam no ar, indica-se incluir no cardápio alimentos antioxidantes. "Ao neutralizar a ação dos poluentes, eles também impedem o surgimento das inflamações que ocorreriam no organismo", revela Fernanda Serpa. Na contramão, os itens abarrotados de gordura saturada, como carne vermelha, derivados do leite e maionese caseira, necessitam ser degustados com parcimônia. Afinal, esses são oponentes ferrenhos do peito.
Agora, para não virar alvo fácil das substâncias tóxicas detectadas nos gases, é essencial reduzir o tempo de exposição ao ar impuro das metrópoles. "Não faça atividades físicas em grandes avenidas, principalmente nos horários em que o trânsito é intenso", exemplifica o cardiologista João Vicente da Silveira, do Hospital São Luiz, na capital paulista. Também troque o filtro do ar-condicionado do carro a cada seis meses para o interior dele não virar uma estufa de substâncias tóxicas. Mas, claro, isso não o impede de torcer para que o ômega-3 receba o título definitivo de inimigo da poluição. Quanto mais aliados, melhor.
Onde está a gordura do bem? Há mais de uma versão de ômega-3 dando sopa por aí. As melhores são o EPA e o DHA, porque já vêm prontos para o corpo aproveitar. Elas estão na carne dos nadadores de águas frias e profundas, como salmão, sardinha e arenque, e nos óleos de peixe. Já as nozes e os óleos de linhaça e canola concentram ácido alfalinolênico, outro tipo de ômega-3, que é convertido em EPA e DHA dentro do organismo.
Cuidados com a suplementação Antes de correr para a farmácia com o intuito de investir nas cápsulas de óleo de peixe, cheias de ômega-3, consulte um médico ou nutricionista. "O excesso da substância acarreta, sim, um aumento na produção de colesterol LDL, associado a doenças cardiovasculares", informa Lis Proença, nutricionista do InCor. "Por isso, a melhor recomendação é seguir uma dieta balanceada, variada e sem radicalismos."
De garfo e faca contra a poluição
Complicou? Vamos por partes. Quando inalados, os gases tóxicos, especialmente os liberados pelos carros, tendem a acelerar a frequência cardíaca. Com o coração funcionando em ritmo alucinado, sobe o risco de sofrer arritmia, quadro capaz de patrocinar uma síncope no músculo mais importante do corpo. Acontece que, na investigação americana, a situação ficou sob controle nos 16 voluntários que ingeriram cápsulas com 3 gramas de óleo de peixe diariamente, um mês antes da exposição aos poluentes. "Ao que tudo indica, o ômega-3 ativa o sistema nervoso parassimpático, responsável por diminuir as batidas do coração", descreve a nutricionista Maria Fernanda Cury Boaventura, professora da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. Então, garante-se o equilíbrio em relação ao sistema nervoso simpático, cuja função é oposta, ou seja, acelerar os batimentos. Cabe frisar que a mesma vantagem não foi observada nos 13 participantes que receberam óleo de oliva.
Esse não foi o único dado contrastante entre as duas turmas. Enquanto os consumidores do óleo de peixe não apresentaram alterações nos níveis de lipídios sanguíneos, aqueles que ingeriram a cápsula recheada de azeite ficaram às voltas com um aumento de colesterol e triglicérides - o artigo americano sugere que essa elevação também seria resultado da fumaceira. "O excesso de lipídios no sangue decorre da ingestão inadequada de alimentos gordurosos ou de doenças. A poluição não é fator determinante nisso", contrapõe Abrão Cury, cardiologista do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.
O que se sabe é que, em excesso, o colesterol se deposita na parede das artérias. Essa situação, que já não é nada boa, fica pior quando os gases tóxicos são inalados. Isso porque eles estimulam a formação de radicais livres, substâncias perigosas que propiciam a oxidação dessa molécula. "Esse processo está associado à formação de placas", explica Ubiratan de Paula Santos, pneumologista do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Na prática, abre-se caminho para a temida aterosclerose.
"Além disso, os poluentes estimulam a produção de mediadores inflamatórios que contraem os vasos", acrescenta o especialista. Esse cenário culmina na elevação da pressão arterial, um baita perigo principalmente para quem tem histórico de doença cardiovascular na família. A sorte é que, aí, o ômega-3 exerceria um papel protetor. "Os componentes ativos dessa gordura se incorporam nas membranas celulares e geram substâncias anti-inflamatórias", justifica a nutricionista Fernanda Serpa, diretora da Nutconsult, no Rio de Janeiro.
Independentemente dos resultados obtidos na investigação americana, a nutricionista Regina Pereira, diretora do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, acredita que é cedo para fazer uma ligação direta entre o consumo de ômega-3 e a redução dos danos causados pela poluição. "Precisamos aguardar a publicação de outros trabalhos que envolvam um número maior de pacientes", defende.
Contudo, não se contesta a importância dessa gordura para a manutenção da saúde cardiovascular em geral. Tanto é que ela deve aparecer sempre na dieta. "A recomendação oficial é comer peixe duas vezes na semana", informa Lis Proença, nutricionista do InCor. No restante dos dias, basta usar 2 colheres de sopa de óleo de canola ou linhaça - boas fontes do nutriente - para finalizar os pratos.
Seguindo a toada de deixar o coração firme e forte para, assim, enfrentar os compostos maléficos que pairam no ar, indica-se incluir no cardápio alimentos antioxidantes. "Ao neutralizar a ação dos poluentes, eles também impedem o surgimento das inflamações que ocorreriam no organismo", revela Fernanda Serpa. Na contramão, os itens abarrotados de gordura saturada, como carne vermelha, derivados do leite e maionese caseira, necessitam ser degustados com parcimônia. Afinal, esses são oponentes ferrenhos do peito.
Agora, para não virar alvo fácil das substâncias tóxicas detectadas nos gases, é essencial reduzir o tempo de exposição ao ar impuro das metrópoles. "Não faça atividades físicas em grandes avenidas, principalmente nos horários em que o trânsito é intenso", exemplifica o cardiologista João Vicente da Silveira, do Hospital São Luiz, na capital paulista. Também troque o filtro do ar-condicionado do carro a cada seis meses para o interior dele não virar uma estufa de substâncias tóxicas. Mas, claro, isso não o impede de torcer para que o ômega-3 receba o título definitivo de inimigo da poluição. Quanto mais aliados, melhor.
Onde está a gordura do bem? Há mais de uma versão de ômega-3 dando sopa por aí. As melhores são o EPA e o DHA, porque já vêm prontos para o corpo aproveitar. Elas estão na carne dos nadadores de águas frias e profundas, como salmão, sardinha e arenque, e nos óleos de peixe. Já as nozes e os óleos de linhaça e canola concentram ácido alfalinolênico, outro tipo de ômega-3, que é convertido em EPA e DHA dentro do organismo.
Cuidados com a suplementação Antes de correr para a farmácia com o intuito de investir nas cápsulas de óleo de peixe, cheias de ômega-3, consulte um médico ou nutricionista. "O excesso da substância acarreta, sim, um aumento na produção de colesterol LDL, associado a doenças cardiovasculares", informa Lis Proença, nutricionista do InCor. "Por isso, a melhor recomendação é seguir uma dieta balanceada, variada e sem radicalismos."
De garfo e faca contra a poluição
Uma
porção de alimentos reúne moléculas de ação antioxidante. Elas ajudam a
combater os perigosos radicais livres, que se formam em decorrência da
exposição aos poluentes. Conheça algumas delas abaixo
Vitamina E É encontrada no ovo, nos óleos vegetais e nas oleaginosas, a exemplo de nozes, avelã e castanhas.
Vitamina C Frutas como goiaba, morango, acerola, laranja e limão são redutos desse nutriente.
Zinco Ele está nas ostras, nas carnes e em cereais integrais, entre os quais se destacam o milho, a aveia e o centeio.
Betacaroteno O fitoquímico aparece em belas doses no mamão, no damasco, na abóbora e na cenoura.
Selênio O mineral marca presença na castanha-do-pará, na aveia, no arroz integral e nas carnes.
Compostos fenólicos O gengibre, a cúrcuma e as frutas roxas e vermelho-escuras são ótimas fontes desses potentes antioxidantes.
Vitamina E É encontrada no ovo, nos óleos vegetais e nas oleaginosas, a exemplo de nozes, avelã e castanhas.
Vitamina C Frutas como goiaba, morango, acerola, laranja e limão são redutos desse nutriente.
Zinco Ele está nas ostras, nas carnes e em cereais integrais, entre os quais se destacam o milho, a aveia e o centeio.
Betacaroteno O fitoquímico aparece em belas doses no mamão, no damasco, na abóbora e na cenoura.
Selênio O mineral marca presença na castanha-do-pará, na aveia, no arroz integral e nas carnes.
Compostos fenólicos O gengibre, a cúrcuma e as frutas roxas e vermelho-escuras são ótimas fontes desses potentes antioxidantes.
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